Nos últimos anos, as empresas têm concentrado cada vez mais os seus esforços de Responsabilidade Social (RSE) na criação de oportunidades para as mulheres. Os esforços de género ligados à RSE geralmente começam com o objetivo de aumentar os processos de igualdade por meio de capacitação, formações, cotas de contratação ou planos alargados de igualdade.
Este tipo de ações são importantes. Porém, se uma mulher não pode fazer um empréstimo sem a aprovação do marido (problema que deriva da dependência financeira de muitas mulheres), a gestão independente das suas finanças mantém-se um problema. Se as normas sociais determinam que uma mulher não deve desempenhar certos cargos, ela não pode usar as ferramentas de gestão que desenvolveu para se envolver na força de trabalho. Se o trabalho informal não remunerado (particularmente no apoio a familiares) recai com maior na incidência nas mulheres, então o desenvolvimento da sua carreira fica limitado. Se as taxas de saída de alguns cursos superiores é muito desigual, entre homens e mulheres, como é o caso das engenharias, então as taxas de contratação são limitadas. Desta forma existe um limite para a eficácia das intervenções ao nível individual.
Atuar para além do individual
Encontramos por isso empresas e parceiros “Champions” que trabalham para além dos programas que incidem individualmente em mulheres ou jovens e consideram também os relacionamentos e fatores sistémicos que influenciam a capacidade das mulheres de prosperar e ter sucesso. Os programas de RSE que dedicam esforços no desenvolvimento de políticas de igualdade de género devem ser pensados e intencionalmente desenvolvidos para considerar complexas as nuances sociais, económicas, culturais e políticas, como a dinâmica da tomada de decisões das famílias, os “papéis” e “cargos” de género, e o acesso a recursos.
À medida que as empresas expandem a sua compreensão acerca da equidade de género e o que é necessário para alcançá-la, elas abraçam essas oportunidades contextuais e sistémicas mais amplas para garantir o sucesso e a sustentabilidade dos seus investimentos.
Abordagens para projetar maior impacto
Como é que as empresas podem tomar medidas para melhorar a eficácia das suas abordagens rumo ao impacto social positivo e à equidade de género?
Incorporar as mulheres no desenho dos programas: o papel da voz das mulheres é crucial para fundamentar os programas em experiências da vida real. Isso é geralmente mais desafiador do que parece, pois os papeis sociais podem impedir as mulheres de participarem numa investigação e advogarem sobre as suas perspectivas, sobretudo em empresas cuja chefia é maioritariamente masculina.
Mapear o ecossistema e estabelecer parcerias na comunidade: O design de um projeto deve incluir uma compreensão holística de todos os atores públicos e privados da região da empresa, isso permitirá uma maior visibilidade do conjunto mais amplo de recursos, nos quais os investimentos corporativos se encaixam e o papel distinto que eles desempenham. O mapeamento do ecossitema local também garante que, embora uma empresa possa não trabalhar no nível individual, relacional e de forma sistémica, pode perceber que a sua intervenção não está a ocorrer isoladamente ou que não está a duplicar os esforços existentes, proporcionando uma maior probabilidade de sucesso.
Estabelecer respostas internas globais: Sendo importante que o desenho dos projetos tenha em conta as especificidades do género feminino, também é importante que as respostas consigam alcançar ambos os géneros, concretamente, um programa de género que incida sobre a flexibilidade de horário para apoio familiar (ex. cuidadores informais) é fundamental que os homens sejam incentivados e possam usufruir desse programa, pois desta forma a empresa está a contribuir para para uma alteração dos papeis culturais, potenciando uma mudança sistémica não só no seio da sua empresa e dos seus colaborares, como dos seus familiares e das empresas onde trabalham. Poderá ser igualmente importante em empresas com grande relação comunitária, estabelecer parcerias com empresas com as quais tenham relações..
A investigação sugere que a RSE pode desempenhar um papel importante no avanço da equidade de género quando é projetada para as complexidades da vida real. O conhecimento da rede de desafios familiares, das comunidades e ao nível de políticas que moldam a experiência de uma mulher é fundamental para a implementação de uma programação eficaz de RSE. Essas dinâmicas de poder são complexas e desafiadoras, mas, ao melhorar a equidade de género, melhoramos os resultados para todos.
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